Autoconhecimento

Coragem para liderar: o que é necessário?



Antonella Guimarães Satyro
6 min
08 dez 20
Autoconhecimento

Em uma conversa com a Isabella Quartarolli, da edutech Women Leadership, falávamos sobre o cenário econômico mundial e seus impactos no ambiente de trabalho e nas lideranças. Principalmente sobre lideranças e como comportamentos e habilidades estavam sendo cada vez mais discutidos pelas pessoas e profissionais. Tocamos assuntos relacionados a liderança feminina, protagonismo, coragem para liderar. Descobrimos que estávamos lendo o livro A Coragem para Liderar, da Brené Brown.

Dessa conversa, surgiu a ideia de escrevermos um artigo usando perguntas do livro sobre o que é liderança corajosa.

1. Então, quais são as características que o livro menciona como essenciais para uma liderança corajosa?

Brené Brown fez uma pesquisa com diversos entrevistados, e todos eles mencionaram que os líderes precisam ser mais corajosos, mas quando questionados sobre as habilidades importantes em um líder, a grande maioria não sabia elencar as características essenciais para uma liderança corajosa.

Em um mundo que está constantemente mudando, principalmente com as situações econômicas, políticas e existenciais que estamos vivendo, precisamos de pessoas que estejam preparadas para olhar os problemas e os desafios de diversas perspectivas, para que desta forma possamos ter conversas transparentes e que questionam a forma de fazer as coisas e os rumos que devemos tomar.

Em tempos desafiadores, precisamos questionar os paradigmas existentes. Testar uma nova abordagem pode gerar resultados diferentes. E se não couber mudar o caminho, também está ok seguir na mesma direção. O líder corajoso analisa as diversas opções possíveis e conversa sobre os prós e contras de cada uma. Quais características vejo como liderança corajosa? Resiliência, paciência, growth mindset, capacidade analítica, muitas das skills dos profissionais do futuro.

2. A pesquisadora Brené Brown afirma que a coragem está mais relacionada com a forma como as pessoas se comportam do que com quem elas são. Como demonstrar vulnerabilidade pode mostrar que somos corajosos? 

Para demonstrar vulnerabilidade, temos que primeiramente trabalhar nossa confiança. Trabalhar a confiança como líder significa ser grato pela jornada de aprendizado e ter claro nossos valores e propósito. Se confiamos em nós mesmos, se sabemos que estamos dando nosso melhor, teremos orgulho do profissional e líder que estamos nos tornando. Estamos aprendendo todos os dias, estamos em constante evolução. Demonstrar que somos seres falíveis, mostra que somos corajosos. É através de histórias de erros e desafios que criamos conexão, demonstramos nossa humanidade e humildade.

Sobre se mostrar vulnerável… Ninguém compartilha vulnerabilidades em um lugar onde sabe que será julgado ou onde não sente confiança em ser o líder que gostaria de ser. Ou seja, é necessário primeiro arar a terra, regar, esperar as plantas crescerem, para daí se mostrar vulnerável. É assim perante nossos times e é assim perante outros líderes/peers. “Eu só falo o que penso realmente quando estou em um ambiente onde sei que minha opinião será ouvida sem vieses inconscientes e onde vamos ter uma conversa 100% aberta”. Para isso, é necessário também tirar o ego. É um trabalho que requer muita resiliência.

Para algumas pessoas, mostrar-se vulnerável significa mostrar-se fraco. É interessante como as pessoas atribuem significados a palavras, situações e outras pessoas. O nosso inconsciente é rápido e rasteiro para julgar e as vezes não percebemos o significado que damos as coisas. Entender o que as palavras e sentimentos significam é muito importante para ter clareza nas nossas atitudes e também nos nossos discursos. Já vi líderes que quando falei sobre vulnerabilidade viraram os olhos ou fizeram expressões faciais de desdém, na grande maioria sem perceber e quando pedi para compartilharem um momento vulnerável, não sabiam o que dizer porque não queriam se expor. 

Líderes que estão presos nesse paradigma estão em um looping infinito de punição quando erram e, podem estar fazendo a mesma coisa com as pessoas da sua equipe inconscientemente. Reproduzimos o que aprendemos com experiências passadas. Se tivemos líderes autoritários, há grandes chances de reproduzirmos esse comportamento, com exceção de quando estamos muito conscientes e em estado de presença para fazer diferente e quebrar o ciclo.

Pergunte-se: o que é vulnerabilidade para você? Como você a traduz e coloca em prática no seu dia a dia? O desenvolvimento e a evolução acontecem quando passamos a fazer perguntas mais profundas para nós mesmos, quando passamos a analisar o nosso próprio comportamento sobre o que acreditamos ou deixamos de acreditar. Também quando colocamos em prática essas reflexões.

Conhecimento é a ferramenta mais valiosa que temos em relação a nós mesmos; quando nos conhecemos, nos vemos e entendemos o comportamento do outro. Olhamos o mundo a partir da nossa visão e, à medida que vamos ampliando nossa visão, entendemos diferentes opiniões, e isso nos torna mais conscientes e empáticos.

3. O que os líderes devem aprender com o medo, com a autocompaixão e com a paciência? 

Com o medo, devemos aprender que ele sempre estará lá, principalmente se temos que tomar decisões que envolvem a vida e a carreira das pessoas. A questão é como lidamos com ele. O medo e o estresse podem ser saudáveis, desde que estejam em níveis suportáveis e nos impulsionem a ir adiante. A vontade de aprender e ser melhor tem que ser maior que o medo para que nos coloquemos em movimento.

Autocompaixão é saber que teremos dias bons e ruins. Dias em que as decisões são acertadas, tudo funciona bem, vai de vento em popa, e teremos dias em que não vamos tomar as melhores decisões, mas vamos descobrir que baseado no que tínhamos de informação no momento, foi o que pôde ser feito. Nenhum líder nasce pronto. Podemos ler livros, fazer cursos, mas a experiência que se dá no dia a dia não está à venda. Aprender a lidar com os fracassos e apreciá-los como parte da jornada é essencial para seguir levantando a cada tombo.

Paciência é a chave para compreender o outro, como ele age e por que age. Paciência anda de mãos dadas com observação. Observação para entender por que tal pessoa tem determinado comportamento, ou por que não executa as tarefas no tempo determinado, ou mesmo por que discute com os colegas. Paciência para entender por que as pessoas são como são. Muitos comportamentos são inconscientes, baseados em nossos backgrounds, cultura e educação familiar, e a grande maioria das pessoas não tem a consciência de que pode estar machucando alguém, sendo orgulhosa, dentre outros comportamentos, porque para ela aquilo é o normal de acordo seu ponto de referência. Paciência para entender os “normais” de cada um e aprender a se comunicar com uma pessoa de personalidade diferente da nossa e mesmo assim ser capaz de dar um feedback assertivo, ensinar novas maneiras de fazer/ser é uma grande virtude dos líderes. Todos nós podemos ser melhores, começando por nós mesmos.

Praticar a autoliderança e a paciência é essencial para vermos os comportamentos que queremos ver em nós mesmos e no mundo.